O país é o segundo do mundo com maior dificuldade para contratação.
O Brasil é o segundo país do mundo com maior dificuldade para contratação de profissionais qualificados, atrás somente do Japão, conforme revela a oitava Pesquisa Anual sobre Escassez de Talentos realizada pelo ManpowerGroup, empresa líder mundial em soluções de gestão e recrutamento.
A pesquisa apontou que 68% dos empresários brasileiros entrevistados reconhecem que têm problemas na hora de preencher vagas em suas organizações. O índice é quase o dobro da média mundial, que ficou na casa dos 35%. Esse é o segundo ano consecutivo em que o Brasil ocupa a segunda colocação no ranking. Em 2012, porém, a dificuldade era apontada por 71% dos brasileiros entrevistados. As principais profissões com déficit de talentos são técnicos, operadores de produção, contadores e profissionais de finanças, engenheiros, representantes de vendas, motoristas, secretárias e mecânicos.
Na opinião do CEO do ManpowerGroup no Brasil, o italiano Riccardo Barberis, a falta de profissionais qualificados no país é um reflexo da carência do sistema público de ensino. “Muitos jovens saem da escola com dificuldades para realizar cálculos simples. Como é que eles vão querer seguir carreira em áreas como engenharia ou finanças dessa maneira?”, questiona Barberis. Outro ponto ressaltado por ele é a falta de valorização da escola e de cursos técnicos.
Na avaliação de Barberis, a escassez de talentos tem grande impacto nas estratégias das empresas, já que o principal capital do nosso tempo é o potencial humano. “Isso traz queda no desempenho empresarial. O problema só não é maior porque neste momento a economia brasileira não está ‘bombando’. Quando voltar a crescer, isso vai incomodar muito. Felizmente, os empresários estão cientes disso e sabem também que essa será uma questão a ser trabalhada com permanência”, comenta.
De acordo com a pesquisa, 43% dos empregadores dizem que a conseqüência da escassez de talentos é a redução da capacidade de atender adequadamente os clientes, 39% afirmam que há queda de produtividade e competitividade, 25% relatam que há mais rotatividade de pessoal, 22% dizem acreditar que a falta de profissionais reduz a capacidade de criar e inovar.
Soluções
Para Barberis, uma das soluções de curto prazo é investir na retenção de pessoal. Ele explica que a primeira iniciativa é elaborar uma estratégia diferenciada para os colaboradores que possuem um papel-chave na empresa, com plano de retenção individual. Também é necessário identificar pessoas com potencial, mesmo que ainda não estejam preparadas, e desenvolver um programa de coach, se possível junto com universidades.
Para resolver o problema no longo prazo, é fundamental que as universidades se preocupem com a empregabilidade de seus estudantes e que haja uma valorização das escolas técnicas, que oferecem oportunidade de entrada rápida do jovem no mercado de trabalho e, além disso, também ensinam os alunos a serem empreendedores. “São as escolas técnicas as responsáveis pelo bom aproveitamento dos jovens no mercado de trabalho de países da Europa, entre eles a Alemanha”, diz. Segundo ele, o poder público tem papel fundamental nesse processo, pois é quem deve informar os estudantes sobre o mercado de trabalho e as oportunidades.
O primeiro lugar do Japão na pesquisa, com 85% dos entrevistados que dizem ter problemas com recrutamento, está relacionado ao envelhecimento da população e a políticas muito rígidas de migração que não favoreceram a entrada de novos talentos, conforme explica a ManpowerGroup. Para realizar a pesquisa, foram entrevistados 40 mil empresários em 42 países durante o primeiro trimestre de 2013. Embora essa seja a oitava edição, o Brasil participa desde 2010.
Autor
Juliana de MariJornal
Diário do Comércio