A indústria brasileira de software foi incluída na política industrial do governo para as exportações e tem metas previstas de alcançar US$ 2 bilhões em exportações até 2007. Foi criado um convênio com a Agência de Promoções de Exportações (Apex) juntamente com a proposta do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial de criar uma política de tributos específica para empresas interessadas em exportar.
Segundo o presidente da Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes) Jorge Sukarie Neto, o país tem potencial para atingir as metas previstas pelo governo, desde que as empresas se organizem e que contem com apoio governamental.
O grande desafio das empresas é dispor de mão-de-obra qualificada e se adequar às normas internacionais, garantindo não somente a qualidade dos produtos, mas também ter certificações internacionais como a CMM (Capability Maturity Model).
A maior parte das empresas brasileiras,,possui metodologias de desenvolvimento, mas apenas uma pequena parte possui certificação de maturidade de processos (CMM) de nível internacional na fabricação de software sendo que, destas, a grande parte é multinacional.
No que diz respeito à capacitação do processo, observa-se que apenas uma pequena parte possui certificação de elevada maturidade no seu processo de desenvolvimento de software. Dentre as empresas com certificação (CMM/ISO), a maioria está associada a produtos, enquanto as empresas de serviços empregam métodos próprios, mas sem certificação, criando uma lacuna importante do ponto de vista de afirmação internacional.
As certificações destas empresas estão associadas a produtos, enquanto que as empresas de serviços empregam métodos próprios, mas sem certificação formalizada. A tabela abaixo mostra que o conjunto de empresas com modelo de negócios centrados em produto – embarcado / componente e produto customizável – possui 80% das certificações Bom e Ótimo.
Maturidade do Processo x Modelo de Negócios
A qualidade de software depende da capacitação dos processos. Há pouco investimento das empresas em certificações que comprovem a qualidade e a maturidade dos seus processos na fabricação de software, impossibilitando a venda deste produto no mercado internacional. Para as pequenas empresas, esse investimento é dificultado devido ao alto valor das certificações. Graças à iniciativa de entidades privadas, centros de estudos e governo brasileiro, existe a possibilidade de melhorarmos os processos de software no Brasil, tendo como foco pequenas e médias empresas. O Projeto mps BR – Melhoria de Processo do Software Brasileiro, projeto coordenado pela SOFTEX é apontado como solução para tornar o software brasileiro um produto de exportação competitivo.
2 – Quem é a SOFTEX?
A Sociedade para Promoção da Excelência do Software Brasileiro (SOFTEX) é a entidade responsável pelo Programa SOFTEX, que têm como objetivo o apoio à produção e comércio do software brasileiro. Criado pelo CNPq em 1993 como Programa Softex 2000, foi r reformulado juntamente com a SOFTEX, de acordo com a nova política brasileira de software e as necessidades da nova economia.
A sociedade SOFTEX é uma entidade privada, com sede em Campinas(SP), sem fins lucrativos, que promove ações de empreendedorismo, capacitação, apoio à capitalização e ao financiamento, e apoio a geração de negócios no Brasil e no exterior, visando aumentar a competitividade da indústria brasileira de software. Sua missão é transformar o Brasil em um centro de excelência mundial na produção e exportação de software. A SOFTEX coordena as ações de 31 agentes SOFTEX, localizados em 23 cidades de 13 unidades da federação, com mais de 300 empresas associadas.
3 – O Projeto mps BR
Iniciado em 2003, a partir de dezembro, conta com a participação de sete instituições brasileiras: a SOFTEX, coordenadora do projeto; três instituições de ensino, pesquisa e centros tecnológicos (COPPE / UFRJ, CESAR, CenPRA); uma sociedade de economia mista, a companhia de Informática do Paraná (CELEPAR), hospedeira do Subcomitê de Software da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT); e duas organizações não governamentais integrantes do Programa SOFTEX (Sociedade Núcleo de Apoio à Produção e Exportação de Software do Rio de Janeiro – RIOSOFT e Sociedade Núcleo SOFTEX 2000 de Campinas). A Universidade Católica de Brasília também faz arte do projeto.
O projeto tem as seguintes metas:
– Definir e implementar o Modelo de Referência para Melhoria de Processos de Software (MR mps) em 120 empresas, até junho de 2006, com perspectiva de mais de 160 empresas nos dois anos subseqüentes.
– Criar cursos em diversos locais do país para capacitar e formar consultores do modelo.
– Credenciar instituições e centros tecnológicos capacitados a implementar e avaliar o modelo com foco em grupo de empresas.
Foram criados dois modelos: o Modelo de Referência para Melhoria do Processo de Software (MR mps). e o Modelo de Negócio para Melhoria de Processo de Software (MN mps). Este modelo de negócios prevê duas situações:
-A implementação do MR mps de forma personalizada para uma empresa (MNE – Modelo de Negócio Específico);
-A implementação do MR mps de forma cooperada em grupo de empresas (MNC – Modelo de Negócio Cooperado), é um modelo mais acessível às micro, pequenas e médias empresas por dividir de forma proporcional parte dos custos entre as empresas e por se buscar outras fontes de financiamento.
3.1 – Credenciamento e Avaliação
O credenciamento será feito pelo Fórum de Credenciamento e Controle (FCC) do Projeto.
No MNE, cada empresa negocia e assina um contrato com uma das instituições credenciadas para Implementação (ICI) do MR mps e, para avaliação, assina um outro contrato específico com uma Instituição Credenciada para Avaliação (ICA).
No MNC, reúne se um grupo de empresas sob um coordenador ou grupo de coordenadores, que toma a mesma iniciativa descrita anteriormente no que condiz a implementação e avaliação do MR mps.
4 – Modelo e Normas que compõe o MR mps
Não é objetivo do projeto definir algo novo em termos de normas e modelo de maturidade. Para a construção do modelo foi observado a realidade das empresas brasileiras, a norma ISO/IEC 12207, a série de normas ISO/IEC 15504 (SPICE) e o modelo CMMI, descritas abaixo.
4.1 – Norma ISO/IEC 12207
Publicada internacionalmente em 1995 e no Brasil em 1998, passou por uma atualização em 2002 para acompanhar a evolução da engenharia de software, as necessidades vivenciadas pelos usuários da norma e a harmonização com a série de normas ISO/IEC15504 – Avaliação de processos de software.
Ela estabeleceu uma estrutura comum para os processos de ciclo de vida de software para ajudar as organizações a obter um melhor entendimento das atividades a serem executadas nas operações que envolvem de alguma forma o software.
A estrutura da norma é composta de processos, atividades e tarefas que envolvam o software.
A atualização de 2002 inseriu processos e acrescentou na sua descrição propósito e resultados de implementação o que possibilita a avaliação de capacidade do processo. A norma, incluindo o seu anexo é composta por:
-Processos fundamentais: Aquisição, fornecimento, desenvolvimento, operação e manutenção.
-Processos de apoio: Documentação, Gerência de configuração, Garantia de qualidade, Verificação, Validação, Revisão Conjunta, Auditoria, Resolução de problemas e usabilidade.
-Processos Organizacionais: Gerência, Infra-Estrutura, Melhoria, Recursos Humanos, Gestão de Ativos, Gestão de Programa de Reuso e engenharia de Domínio.
Cada processo é dividido em termos de suas próprias atividades e cada atividade é definida em termos de suas tarefas. A norma estabelece uma arquitetura de alto nível abrangendo desde a concepção até a descontinuidade do software.
4.2 – Norma ISO/IEC 15504
Em setembro de 1992, a ISO realizou um estudo chamado “Necessidades e Exigências para uma Norma de Avaliação de Processo de Software”. O trabalho concluiu que era pertinente a elaboração de um padrão que fosse aplicável à melhoria de processos e a determinação da capacidade. Este padrão deveria considerar os métodos e normas já existentes e abranger todos os processos de software.
A ISO/IEC 15504 (SPICE) foi publicada em 2003 e contempla a realização de avaliações de processos de software com dois objetivos: a melhoria de processos e a determinação da capacidade de processos de uma organização.
Se o objetivo for a melhoria de processos, a organização pode realizar a avaliação gerando um perfil dos procesos que será usado para a elaboração de um plano de melhorias. A análise dos resultados identifica os pontos fortes, os pontos fracos e os riscos inerentes aos processos. No segundo caso, a empresa tem o objetivo de avaliar um fornecedor em potencial obtendo o seu perfil de capacidade. O perfil de capacidade permite ao contratante estimar o risco associado à contratação daquele fornecedor em potencial para auxiliar na tomada de decisão de contratá-lo ou não. (Salviano, 2001, ISO/IEC,2003 ).
4.3- CMMI
O modelo SW-CMM (Capability Maturity Model) foi definido no SEI (Software Engineering Institute) a pedido do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. A partir de 1991, foram desenvolvidos CMMs para várias disciplinas (engenharia de sistemas, engenharia de software, etc.) o que se mostrou problemático. O CMMI veio para resolver este problema, ele é a evolução do SW-CMM, SECM e IPD-CMM.
O modelo CMMI foi desenvolvido para ser compatível com a ISO/IEC 15504 (Chrissis, 2003).
Existem dois tipos de representação no CMMI: em estágios e contínua. A representação em estágios define um conjunto de áreas de processo para definir um caminho de melhoria para a organização, descrito em níveis de maturidade. A representação contínua usa níveis de capacidade para caracterizar melhoria relacionada a uma área de processo.
Um modelo em estágios fornece um roteiro pré-definido para melhoria de processos na organização baseado em agrupamento e ordenação de processos. O termo “estágios” vem da forma como o modelo descreve este roteiro, isto é, como uma série de estágios chamados níveis de maturidade. Cada nível de maturidade tem um conjunto de áreas de processos que identificam onde a organização deve colocar o foco de forma a melhorar o seu processo. Cada área de processo é descrita em termos das práticas que contribuem para alcançar seus objetivos. O progresso ocorre pela satisfação dos objetivos de todas as áreas de processo relacionadas a um determinado nível de maturidade. As áreas de processo do CMMI estão organizadas em quatro níveis de maturidade na representação em estágios, pois o nível um não possui áreas de processo. Aqui caberia um gráfico do CMMI, com os estágios etc.
5– Implementação MR mps
A norma de referência para os processos de ciclo de vida de software no MR mps é a ISO/IEC 12207 conforme sua atualização publicada em 2002. Esta norma pode ajudar a organizaçãp na definição de seus processos pois ela contém uma clara definição da arquitetura, terminologia e responsabilidade, inerente a processos. Essa atualização inseriu processos e acrescentou na sua descrição propósito e resultados de implementação o que possibilita a avaliação de capacidade do processo. Ela é o guia para a definição de processos.
Os resultados esperados da implementação dos processos são uma adaptação para o MR mps dos resultados esperado nos processos e atividades da ISO/IEC 12207. A implementação do MR mps pode ter soluções diferenciadas dependendo das características, necessidades e desejo das organizações. Por exemplo, quando a organização deseja ter aderência de seus processos ao CMMI esta pode se apoiar nas áreas de processos deste modelo para obter diretrizes sobre como definir e implementar os seus processos. A norma ISO/IEC 12207, por sua vez contém atividades e tarefas descritas de forma detalhada que podem auxiliar na implementação das áreas de processo.
6– Níveis de Maturidade
Os níveis de maturidade estabelecem uma forma de prever o desempenho futuro de uma organização com relação a uma ou mais disciplinas. Um nível de maturidade é um patamar definido de evolução de processo.
No MR mps a maturidade do processo está organizada em duas dimensões:
– Dimensão da capacidade: é um conjunto de atributos de um processo que estabelece o grau de refinamento e institucionalização com que o processo é executado na organização. À medida que evolui nos níveis, um maior ganho de capacidade de desempenhar o processo é atingido pela organização. Os níveis estabelecem uma maneira racional para aprimorar a capacidade dos processos definidos no MR mps.
– Dimensão de processos: baseada na ISO/IEC 12207, estabelece que a organização deveria executar para ter qualidade na produção, fornecimento, aquisição e operação de software.
A interseção dessas duas dimensões define a maturidade do processo que no MR mps são sete níveis de maturidade:
A – Em Otimização
B – Gerenciado Quantitativamente
C – Definido
D – Largamente Definido
E – Parcialmente Definido
F – Gerenciado
G – Parcialmente Gerenciado
Para cada um destes níveis de maturidade citados acima, foram atribuídas áreas de processo, com base nos níveis 2, 3,4 e 5 do CMMI em estágios. Esta divisão tem uma gradação diferente do CMMI em estágios como objetivo de possibilitar uma implementação mais gradual e adequada às micro, pequenas e médias empresas brasileiras. A possibilidade de realizar avaliações considerando mais níveis permite uma visibilidade dos resultados de melhoria do processo, na empresa e no país, com prazos mais curtos. Para cada área de processo são considerados objetivos e práticas específicas, de acordo com o nível de maturidade em questão.
7 – Métodos de Avaliação
A avaliação das organizações segundo o MR mps deverá ser realizada considerando-se a aderência às áreas de processo estabelecidas para cada nível de maturidade e a adequação das práticas que implementam as áreas de processo. O método de avaliação foi definido com base na ISO/IEC 15504.
O nível de implementação das práticas relacionadas a uma área de processo é avaliada a partir de indicadores. Esses indicadores, que devem ser definidos pela empresa para cada prática relacionada a uma área de processo, podem ser de um dos três tipos a seguir:
-Direto: São produtos intermediários, resultantes de uma atividade.
-Indicadores Indiretos: São, em geral, documentos que indicam que uma atividade foi realizada.
-Afirmações: São resultantes de entrevistas com a equipe dos projetos avaliados de acordo com quatro níveis: TI (Totalmente implementada), LI (Largamente Implementada), PI (Parcialmente Implementada), NI (Não Implementada).
A decisão final sobre o grau de implantação de um processo é da equipe de avaliação considerando os resultados da avaliação nos projetos avaliados.
Uma empresa é considerada nível A, B, C, D, E, F ou G se todas as suas áreas, unidades, divisões ou setores tiverem sido avaliados como naquele nível. Uma empresa, entretanto pode desejar ter avaliado apenas um ou alguns de seus setores, áreas, unidades ou divisões (organização a ser avaliada). É possível que, como resultado de uma ou mais avaliações, partes de uma empresa tenham alcançado um determinado nível e partes da mesma um outro nível. (não entendi Em qualquer caso, o documento comprobatório da avaliação deverá explicitar o que foi objeto da avaliação (escopo da avaliação) e o nível resultante da maturidade.
Para realização de uma avaliação devem ser submetidos todos os projetos concluídos e todos os projetos em andamento a partir da implementação do MR mps na empresa ou na organização que será avaliada. Durante o planejamento da avaliação, a instituição avaliadora deve selecionar um conjunto suficiente de projetos que garanta representatividade da organização a ser avaliada. Este número, entretanto não deve ser inferior a dois projetos concluídos e dois projetos em andamento.
Algumas empresas podem desenvolver um único produto. Isto, entretanto não é impedimento para avaliação, pois projetos são entendidos em sentido amplo, incluindo projetos de manutenção no produto. O resultado de uma avaliação tem validade de dois anos.
8 – Conclusão
Projetos como este são importantes, porque criam possibilidades para micro, pequenas e médias empresas melhorarem os seus processos de software. Através dele, as empresas brasileiras podem se tornar mais competitivas e oferecerem produtos desenvolvidos com a mesma qualidade de empresas internacionais. A base do projeto compreende normas internacionais usadas por boa parte das empresas no mundo, isto prova que a parceria entre governo e sociedade civil pode resultar em bons projetos para as empresas brasileiras.
9 – Referências Bibliográficas
– Site: www.softex.br
– Artigo: Modelo de Referência para Melhoria de Processo de Software: uma abordagem brasileira XXX Conferência Latinoamericana de Informática (CLEI 2004), Arequipa Peru
– Fonte: (O ESTADÂO) O setor foi incluído na política industrial do governo Lula e tem como meta atingir US$ 2 bilhões em exportações até 2007 – 24/02/2005
– (Weber, 2001) Weber, Kival. Chaves, Rocha Ana Regina Calvacanti, Nascimento; Joseli do Nascimento .Qualidade e Produtividade de Software 4ª Edição Renovada. São Paulo, Makroon Books 2001
Autor
Elisângela Beatriz Sodré
Graduada em Tecnologia em Processamento de Dados. Pós-graduada em Gestão e Tecnologia da Informação pelo Ietec.