Cientistas da Universidade Rockefeller e do Laboratório Cold Spring Harbor, em Nova York, mergulharam em um estudo fascinante para decifrar as origens da linguagem humana.
Para tal, eles exploraram o gene NOVA1, presente em todos os mamíferos, mas com uma mutação única nos Homo sapiens. A pesquisa, ao modificar geneticamente ratos, revelou mudanças surpreendentes e lançou luz sobre a evolução da fala.
O interesse pelo gene NOVA1 se deve à sua função crucial como regulador genético, capaz de codificar a proteína Nova-1, essencial para o sistema nervoso. Por meio desse estudo, os pesquisadores visam entender como a variante humana desse gene pode ter influenciado nossa capacidade de comunicação complexa ao longo da história evolutiva.
Ratos começaram a emitir sons similares a uma linguagem específica ao falar com as fêmeas – Imagem: Pixabay/Pexels
Experimento fez ratos quase falarem
Para explorar o impacto do NOVA1, os cientistas introduziram a variante humana em camundongos. O resultado foi a modificação da regulação do RNA, especialmente em áreas relacionadas ao comportamento vocal.
Robert Darnell, neuro-oncologista que lidera o estudo desde os anos 1990, relatou que os filhotes de camundongo emitiram sons mais agudos, enquanto os machos adultos passaram a vocalizar de forma mais complexa durante as interações.
Em uma entrevista, Darnell expressou ainda sua surpresa com as descobertas, ao destacar como os ratos começaram a “conversar” diferentemente com as fêmeas.
Tais achados podem fornecer pistas valiosas sobre como a comunicação humana se desenvolveu ao longo do tempo. Wolfgang Enard, geneticista renomado, também ressaltou a importância do NOVA1, ao considerá-lo uma peça-chave para entender as complexas origens da fala.
Importância da descoberta
Embora o impacto total da mutação no comportamento vocal dos ratos ainda não esteja claro, os cientistas acreditam que áreas específicas do cérebro, como o tronco cerebral e o córtex, possam estar envolvidas. Além de sua implicação na comunicação, o NOVA1 consegue influenciar o aprendizado e a coordenação motora, pois está potencialmente ligado a transtornos psiquiátricos graves.
Tal mutação genética pode ter sido crucial para a diferenciação dos Homo sapiens de outros hominídeos. Em um universo de mais de 650 mil sequências genéticas, apenas seis indivíduos foram encontrados sem a versão humana do NOVA1. Assim, acredita-se que essa mutação surgiu em uma população ancestral na África e facilitou a comunicação vocal ao se espalhar globalmente à medida que os humanos migravam.
A descoberta do NOVA1 como um potencial componente central na evolução da fala humana oferece novas perspectivas sobre nossa história evolutiva. À medida que os pesquisadores avançam, mais revelações sobre as origens da linguagem e da comunicação podem emergir, ao solidificar o papel vital que este gene desempenha em nossa identidade como espécie.