A Amazônia é bem grande e todos nós sabemos disso. Sobre o que pouquíssima gente sabe, no entanto, é que essa extensa e rica floresta guarda o fato inusitado de que alguns de seus habitantes falam japonês.
Isso mesmo! A Amazônia possui uma comunidade própria de japoneses, descendentes de pessoas que vieram do Japão para morar no Brasil durante os anos 50 e 60.
Dentre eles, alguns chegaram ao país ainda bebês ou crianças pequenas e tiveram de lidar com um lugar totalmente diferente do que estavam acostumados; afinal, agora eles estavam na maior floresta do mundo: a Amazônia.
Migração de japoneses no Pará
Localização de Tomé-Açu no mapa do Pará. Foto: Reprodução
Entre 1952 e 1965, o estado do Pará recebeu cerca de 46 mil japoneses, formando a terceira maior colônia nipônica do Brasil. Ao longo do tempo, eles trabalharam, principalmente, com agricultura.
Hoje, os japoneses do Pará, mais especificamente da cidade de Tomé-Açu, onde é comum ouvir o idioma do Japão, são conhecidos pela produção de diferentes tipos de fruta, como cacau, açaí, cupuaçu e pitaya, além de madeira e óleos vegetais.
Eles chegam a exportar produtos para as fábricas de chocolate no Japão, mas chegar a esse nível de produção não foi nada fácil.
A história da comunidade é marcada por resistência, sofrimento e adaptação, contando com muita ajuda e ensinamento dos ribeirinhos da região.
Com o tempo, eles perceberam que o modelo de monocultura e desmatamento não é sustentável e se renderam à prática dos nativos: plantio variado de frutas associado à presença da natureza.
Com isso, os campos desmatados do início voltaram a ter aparência de floresta.
A transformação de Tomé-Açu
Quando os primeiros japoneses chegaram em Tomé-Açu, o visual era um só: mata para todo lado. A cidade foi se transformando aos poucos.
Além da presença de estrangeiros e de uma nova língua, a influência é perceptível também no estilo arquitetônico das casas.
No início, os japoneses moraram em barracas improvisadas, que ficavam no meio da mata. Era comum, por exemplo, receber visitas de animais selvagens, como onças-pintadas em busca de comida (galinhas, principalmente).
A vinda dos japoneses está associada a um acordo fechado entre os governos dos dois países, que incentivavam a migração, principalmente de agricultores e trabalhadores rurais, que estavam em falta no Brasil.
Muitos camponeses do Japão saíram, por exemplo, da província de Hiroshima. Enquanto no Brasil eles teriam a chance de uma nova vida pela frente, no Japão eles enfrentavam a pobreza crescente no campo.
A escolha do Pará
Os japoneses começaram a chegar no Brasil em 1908. Primeiro, eles se concentraram em São Paulo, onde fica a maior comunidade nipônica do país.
O Pará surgiu nessa história, depois que o então governador do estado, Dionísio Bentes, viu na migração de japoneses uma chance de atraí-los para desenvolver a agricultura local.
O governo ofereceu, então, um terreno de 600 mil hectares de floresta em Tomé-Açu e outros quatro lotes menores nas cidades de Marabá e Monte Alegre.
As primeiras famílias japonesas com destino ao Pará saíram do porto de Kobe, no Japão, em 1929. A viagem até Tomé-Açu durou quase dois meses, com passagens pelo Rio de Janeiro e pela capital Belém.
Tomé-Açu hoje
As influências japonesas em Tomé-Açu são perceptíveis de várias formas.
Além da evolução da cidade, ao longo do tempo, a presença dos imigrantes é notada, também, no templo budista, nos restaurante e até nos túmulos com ideogramas no cemitério.
A união dos agricultores japoneses deu origem, ainda, ao Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu, também conhecido pela sigla Safta.
A mistura do Brasil e Japão rendeu frutos e uma realidade nada comum no meio da Amazônia.
*Com informações da BBC Brasil.